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5 de junho de 2018

Segundo OMS, estresse afeta profissão de motorista de ônibus urbano

Segundo OMS, estresse afeta profissão  de motorista de ônibus urbano

Na quarta-feira (28/9), muito irritado e cansado, um motorista de ônibus da linha SC02 em Belo Horizonte, abandonou o coletivo no meio da viagem com aproximadamente 20 pessoas. O motivo, segundo relatos de outros passageiros, foi devido uma discussão com uma passageira que o acusou de não saber atender bem os usuários e disse que o profissional precisava de reciclagem.

O condutor tentou argumentar que havia parado no espaço reservado para embarque e desembarque e que não tinha feito uma operação inadequada. Prosseguiu viagem, mas na Praça da Savassi, parou em um ponto na Rua Alagoas, se levantou e disse aos passageiros que não tinha mais condições psicológicas de continuar dirigindo o ônibus e que poderia colocar em vida em risco a vida dos passageiros. Desceu do coletivo e pegou um ônibus que passava do lado oposto.

De acordo com o Sindicato Trabalhadores dos Rodoviários de Belo Horizonte este não foi o primeiro caso ocorrido na cidade. Em 2014, também em BH, o motorista da linha 61 – Estação Venda Nova/Centro parou o veículo em um ponto da Avenida Santos Dumont, disse que ia lanchar e abandonou os passageiros sem voltar em seguida.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), motorista de ônibus urbanos está entre as profissões com maior nível de estresse no Brasil. Um levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais e do Sindicato apontou que um em cada três motoristas e cobradores de lotações em Belo Horizonte, uma média de 35%, teve de licenciar nos últimos 12 meses, por problemas de saúde relacionados à atividade profissional.

Em 2014 o  Diário do Transporte mostrou uma pesquisa realizada pela Sul América Saúde com dez setores diferentes da economia. “Profissionais da saúde atestam que existem mais de 30 doenças que são desenvolvidas ou agravadas em trabalhadores (as) do setor de transportes no país por causa do estresse, problemas cardiovasculares e ortopédicos”, alertou.

Disse que levantamento revela que estes trabalhadores (as) são os que apresentam os piores indicadores de saúde e que a pesquisa, foi extensa e abordou 41 mil 366 profissionais dos seguintes setores: indústria da transformação; atividades financeiras ; informação e comunicação; comércio; transporte; saúde; outros serviços; atividades administrativas; atividades profissionais; e construção.

Somente do setor de transportes foram 2 mil 735 pessoas que trabalham em 240 empresas de diferentes regiões em todo o País, entre carga e passageiros.
Foram analisados nos profissionais das dez áreas, 15 indicadores de saúde. O setor de transportes recebeu as piores notas em sete deles: Índice de Massa Corpórea (IMC), glicemia, colesterol total, tabagismo, consumo de álcool, infarto e acidente vascular cerebral (AVC), e Escore de Framingham (risco de doença cardiovascular ocorrer em 10 anos).

 

Detalhes da pesquisa:

Pelos resultados, 62,4% de todos os profissionais pesquisados na área de transportes estão com o Índice de Massa Corpórea (IMC) acima do limite aceitável. Já 61,9% dos trabalhadores em transportes sofrem com sedentarismo. O colesterol está acima do normal para 33,5% dos profissionais avaliados.

A pressão arterial é problema para 20,6% dos profissionais, sendo que 10,7% sofrem de pressão arterial e 0,5% já tiveram infarto. O vício também é um problema recorrente em quem dirige ônibus, caminhões, táxis, vans ou outros veículos de maneira profissional. O índice de tabagismo é de 9% e de alcoolismo é de 4,2%.
São vários os fatores que podem explicar estes números tão negativos.

O estresse é um deles.  Além das situações visíveis, como o trânsito ruim e o relacionamento com os passageiros, há outros fatores geradores de estresse: como altas cargas horárias, pressão para cumprimento de tabelas cada vez mais apertadas, medo da violência (assaltos e até incêndio a ônibus) e a dupla função, pela qual o motorista dirige e cobra a passagem ao mesmo tempo.

 

Estudo do site especializado em carreiras Adzuna mostra que a condição de trabalho dos motoristas de ônibus piorou. Pelo levantamento, o ofício de motorista de ônibus urbano é considerado a pior profissão no País. O estudo levou em consideração a relação entre fatores como remuneração, nível de estresse, pressão no trabalho, riscos de acidentes, assaltos e doenças trabalhistas e até mesmo a relação com as empresas, além das possibilidades de crescimento na carreira.

Foram analisadas mais de duas milhões de profissões e ofícios. A média de todos os quesitos analisados na profissão de motorista somou 36 pontos negativos. A pesquisa, que foi feita entre os anos de 2012 e 2013, mostra a urgência da revisão das relações trabalhistas no setor de transportes, que é bem diversificado.

Enquanto existem empresas de ônibus que realizam treinamentos de qualificação profissional, eventos sobre saúde e bem estar e respeitam cargas horárias, outras permitem que o motorista extrapole sua jornada, não realizam manutenção nos veículos, o que causa desgaste do profissional, não depositam direitos trabalhistas, como depósitos do FGTS e INSS, e não proporcionam um bom ambiente de trabalho.