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5 de junho de 2018

Metrô e CPTM têm um problema operacional a cada 23 horas em 2016

Metrô e CPTM têm um problema operacional a cada 23 horas em 2016

Os usuários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô de São Paulo enfrentaram um problema que levou à interrupção momentânea do serviço de transporte público a cada 23 horas e 34 minutos no ano de 2016, segundo levantamento realizado diariamente pela TV Globo com base em relatos divulgados pelos usuários em redes sociais e confirmados pelas empresas.

No total, foram 212 problemas que levaram à paralisação temporária no serviço nas seis linhas do Metrô em 2016 e mais 143 nos trens da CPTM, conforme dados da TV Globo. Os dados incluem problemas nos trens de diversos tipos, incluindo falhas nos trens (incluindo portas, tração, comunicação interna e freio), no sistema de comando e controle, de equipamento na via ou da via, manutenção e alimentação elétrica. No caso de fechamento de portas, pode eventualmente ter havido algum problema cuja responsabilidade seja do usuário (como bolsas presas ou impedimento de fechamento para que pessoas pudessem entrar no vagão). 

Juntos, os trens de ambos os serviços transportam nos dias úteis 7,4 milhões de passageiros. Nos últimos 5 anos, foram 1.185 problemas nos trens do Metrô e mais 1.089 nos da CPTM: média de 1,25 problema por dia.

 

A reportagem do G1 pediu os mesmos números de ocorrências por meio da Lei de Acesso à Informação. No Metrô, houve 91 ocorrências que prejudicaram os usuários levando à suspensão momentânea do serviço em 2016; já na CPTM, foram 13 ocorrências que “levaram à interrupção do serviço, nem que seja momentânea”. No total, conforme os dados oficiais, o Metrô e a CPTM tiveram juntas um problema a cada 118 horas (quase 5 dias).

A assessoria de imprensa da CPTM não quis analisar os dados do levantamento da Globo e o aumento do número de problemas. Em nota, afirmou que não é correto comparar as ocorrências notáveis de vulto com ocorrências pontuais. Questionada pela reportagem sobre se poderia enviar os dados das ocorrências pontuais, a CPTM disse que não possuía estas informações e que são as ocorrências notáveis, enviadas ao G1 por meio da Lei de Acesso à Informação.

Mas a reportagem teve acesso a relatórios de ocorrências operacionais que mostram que, em média, há cinco ocorrências de falhas por dia de diversos tipos, gerando atrasos e recolhimento de trens para oficina ou acionamento de técnicos de manutenção ou verificação de trilhos.

Questionado sobre os problemas e as reclamações dos usuários, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, afirmou no dia 30 de março ao G1 que “a demanda de usuários das linhas aumentou muito, muito, nos últimos anos e que o governo está trabalhando para aumentar a malha do Metrô – a da CPTM aumentou”, jusficiou ele. Segundo Alckmin, “estão sendo feitos investimentos e obras em diversas linhas” , entre elas 17-Ouro, 4-Amarela, “e até o final de 2017 ao mesmo pelo menos mais quatro estações da Linha 5- Lilás, que já estão prontas, serão entregues à população”.

Já o Metrô afirmou que todos os sistemas de metrô no mundo estão sujeitos a falhas e que a quantidade de incidentes é compatível aos padrões internacionais de qualidade. (veja as notas das empresas ao final desta reportagem).

 

Linha 3-Vermelha

Os dados do Metrô apontam que a linha 3- Vermelha (que liga Corinthians-Itaquera à Palmeiras-Barra Funda) é a que mais teve problemas que paralisaram o serviço dentre as linhas do Metrô em 2016: foram 32 ocorrências – aumento de 52% em relação a 2015. Nos últimos 5 anos, a linha também é a que mais acumula problemas. O levantamento da TV Globo também aponta a Vermelha na liderança do ranking de problemas em 2016 (75 casos dentre o total de 212 incidentes), sendo seguidas pelas linhas 1- Azul (73 problemas) e 2-Verde (55 problemas).

Com 18 estações e atendendo em média 1,176 milhão de passageiros por dia, a Linha 3- Vermelha também lidera, nas redes sociais, as reclamações dos usuários em relação à superlotação e lentidão dos vagões. Foi nesta linha que um trem descarrilou em fevereiro, entre as estações Arthur Alvim e Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, derrubando grades e uma mureta.

Após o incidente, o Ministério Público reabriu um inquérito que havia sido aberto em 2013, após outro trem da mesma linha ter saído dos trilhos na Zona Oeste de São Paulo. A Promotoria do Patrimônio Público e Social pediu explicações ao governo sobre os motivos das ocorrências e a manutenção da linha e da frota.

Segundo Alex Santana, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários e Empresas Operadoras de Veículos sobre Trilhos em São Paulo, a linha Vermelha é problemática por ser a com maior demanda de usuários, sobrecarregando todo o sistema. “É também nesta linha que circulam trens da frota K, chamada de frota bomba. São 25 trens que foram reformados superficialmente entre 2009 e 2011 e são recordistas em problemas, com falhas que se repetem pelos mais diversos motivos. Foi como uma maquiagem que deixou mais bonita por fora, mas o equipamento continua com problemas”, afirma Santana.

O diretor do sindicato dos metroviários afirma a diferença entre os números oficiais e os relatos dos usuários de problemas ocorreu porque a CPTM contabiliza como ocorrência de destaque (chamada de “incidente notável”) problemas que geram atrasos ou interrupções de mais de 5 minutos e que são analisadas pela Comissão Permanente de Segurança (Copese) da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado.

“Temos informações de que só de incidentes que geraram relatórios da Copese foram 76 no Metrô e 140 ocorrências no total. Eles apresentam à imprensa um número que trata apenas de trens ou vias, mas sem considerar outros tipos de falhas, como de equipamentos, portas, estações, etc”, afirma Santana.

Os números oficiais apontam aumento de ocorrências na Linha 2- Verde em relação a 2015 (21%, conforme os dados do Metrô, e 3%, conforme a TV Globo). Percorrendo toda a Avenida Paulista, na região Central da capital, e ligando a Vila Prudente, na Zona Sul, à Vila Madalena, na Zona Oeste, a linha atende em média, diariamente, 518 mil pessoas.

 

Falhas em trens

 

76% dos problemas registrados nos trens do Metrô em 2016 trataram-se de falhas em trens (englobando problemas de trens, portas, freios, tração e sistema de comunicação interna), com preponderância de incidentes nas linhas Azul (37,5% do total) e Vermelha (33,75%), conforme os dados da TV Globo.

Problemas em equipamentos da via estão logo atrás no ranking (16,5% dos incidentes), seguido das falhas no sistema de energia (2%). Houve ainda em 2016 um trem descarrilhado na linha 5-Lilás, que está em obras e pretende ligar Capão Redondo à estação Adolfo Pinheiro, em Santo Amaro, ambas na Zona Sul.

Em relação aos incidentes constatados nos trens na CPTM em 2016, grande parte (44,75%) deve-se a falhas em trens, falhas em equipamentos na via (17,5%) e falhas no sistema elétrico (5%).

A Linha 11-Coral, que liga a Luz, no Centro da capital paulista, à estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana, foi a que mais teve problemas (33% de incidentes nos trens), sendo seguida pela Linha 7-Rubi (30%), que liga Jundiaí à estação Luz, passando pela Grande São Paulo e por bairros da região Norte da capital paulista.

Para sindicato, é falta de manutenção

Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Central do Brasil, que representa os funcionários da Linha 11-Coral, Leonildo Bittencourt Canabrava, o fator que prepondera como causa de problemas na linha, recordista de reclamações, é a manutenção, tanto nos trens quanto nas vias férreas e aéreas. Conforme Canabrava, são feitos apenas reparos de emergência e paliativos, e não preventivos, o que impediriam as falhas.

“A CPTM vem trocando a frota, com exceção da linha 11, que ainda tem trens velhos sendo usados intercaladamente. Mas, muitas vezes se libera o trem com manutenção falha na parte eletrônica ou nas portas. Se a porta não fecha, atrasa tudo e o trem não anda, atrasando todo o sistema e causando um transtorno enorme”, defende.

Canabrava lembra que as vias férreas do Estado foram construídas há mais de 30 anos, voltadas para o transporte de cargas, “e não foram projetadas para o transporte de passageiros” e nem adaptadas. “No Metrô, os trens foram construídos com base fixa, nada mexe. Nos da CPTM, há pedra, madeira e depois os trilhos, que, com chuva ou mudança do tempo, eles cedem ou acabam se deteriorando, gerando em alguns pontos restrições e eventualmente, rompimentos. Aí o maquinista acaba reduzindo a velocidade nestes pontos para evitar danos maiores”, afirma.

Para que as pessoas não sejam tão prejudicadas e não cheguem tão atrasados aos compromissos pelos problemas nos trens, jovens se mobilizaram e criaram perfis nas redes sociais para informar, em tempo real, o que acontece. O administrador de condomínio e fotógrafo William Moreira, de 27 anos, controla um destes perfis, o @DiariodaCPTM, que tem mais de 135 mil seguidores.

“Temos vários colaboradores que utilizam várias linhas. Em janeiro, por exemplo, teve uma falha na linha 8 por conta de um apagão. Um usuário postou uma foto deles no escuro dentro do trem apagado, esperando. Soubemos na hora coisas que a CPTM leva depois uns 20 minutos para confirmar”, salienta.

O grupo que controla o perfil compreende homens e mulheres com idades entre 19 e 30 anos. “Foi uma ação voluntária, acabamos nos conhecendo por compartilharmos sempre o mesmo trem, ou a mesma linha, e resolvemos nos unir nesta causa para ajudar os outros”, explica.