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5 de junho de 2018

Matéria Diário de SP

Matéria Diário de SP

Mulheres dirigindo ônibus crescem na capital

Em cinco anos, aumentou 150% o número de motoristas femininas nas empresas de transporte de São Paulo

Diário de S. Paulo

Lucilene Oliveira

Não é impressão. Existem mais mulheres na direção dos ônibus na capital. Ainda que seja um número tímido, a quantidade de motoristas femininas conduzindo os coletivos cresceu 150% nos últimos cinco anos.

Em 2009, a cidade tinha 120 condutoras e, neste ano, segundo levantamento do Sindmotoristas (Sindicato dos Motoristas de São Paulo), 300 mulheres cumprem a função.

Apesar de estar adaptada com mulheres dirigindo carros de passeio, parte dos passageiros ainda se surpreende ao subir em um veículo e deparar com uma mulher ao volante.

O DIÁRIO acompanhou uma viagem a bordo do ônibus conduzido por Gislene Gonçalves Pires, de 32 anos. Motorista há cinco anos, a condutora da linha Terminal Sapopemba – Terminal Correio tem de superar diariamente mais do que os olhares curiosos dos usuários.

“Tem passageiro que entra e fica olhando tudo o que você está fazendo, mas por três vezes homens com mais idade estavam subindo no ônibus e desistiram ao ver que era eu. A situação mais desconfortável foi quando um casal começou a brigar porque ele achou o máximo uma mulher dirigir e ela discordou totalmente.”

O número de mulheres no sistema de transporte coletivo, incluindo cobradoras, manobristas e profissionais de manutenção, soma três mil em um universo de 40 mil profissionais. O número ainda é pequeno, mas, se depender da instrutora de treinamento de motoristas Eva Maria do Nascimento, de 42 anos, o cenário vai mudar.

“Torço sempre para que tenha mais mulheres na turma. Tenho muito orgulho de treinar homem, mas o orgulho é em dobro quando é uma mulher.” Há mais de dez anos no setor, Eva viveu na pele as restrições para o sexo feminino na categoria. “Mesmo sendo habilitada para dirigir ônibus, entrei no sistema para lavar os veículos. Depois de passar por cobradora e motorista é que eu fui convidada para trabalhar como instrutora”, diz.

Entrevista – Edna Maria de Andrade, coordenadora da Secretaria da Mulher do Sindmotoristas

Das 52 cadeiras da diretoria do Sindimotoristas (Sindicato dos Motoristas de São Paulo), a mulher ocupa apenas uma delas. A eleita é a coordenadora da Secretaria da Mulher, Edna Maria de Andrade. A cobradora, que assumiu a secretaria no dia 30 de novembro do ano passado, tem a missão de ampliar o acesso do público feminino às garagens. Edna falou dos desafios de representar uma minoria em um setor genuinamente masculino.

DIÁRIO_ O mercado de transporte está mais aberto para o público feminino?
EDNA MARIA DE ANDRADE _ Se observarmos que em 2009 o número de mulheres era de 1.335 e neste ano temos cerca de três mil, percebemos que estamos avançando. Mas ainda há muito a ser feito.

O setor oferece poucas oportunidades para as mulheres?
Não chega nem a ser um problema de falta de oportunidades dentro das empresas. O maior desafio para as mulheres é encontrar creche para seus filhos. O horário é o grande inimigo delas porque os turnos são diferentes dos de outras categorias. Quem entra de manhã às vezes faz a primeira viagem às 2h e quem entra à tarde fica até de madrugada.

Você assumiu a secretaria no dia 30 de novembro do ano passado. Quais trabalhos desenvolveu nesse período?
O principal deles foi a pesquisa para descobrir o perfil socioeconônimo dessas trabalhadoras. O baixo nível de escolaridade foi quase unânime entre as entrevistadas. A partir do resultado da pesquisa temos ferramentas para desenvolver projetos mais consistentes.

No desenvolvimento das funções do dia a dia, qual o principal desafio?
Não ter banheiro público nos pontos finais dos coletivos é um transtorno para qualquer um, mas é muito mais humilhante para uma mulher não ter onde fazer as suas necessidades. Aos poucos estamos tentando mudar esse cenário. Conseguimos que a Câmara Municipal sancionasse a lei para a construção de banheiros nos pontos finais.

Como está sendo feito o trabalho nas garagens?
Temos um núcleo de coordenação em cada uma das 32 garagens. Uma mulher faz o trabalho de incentivar cobradoras a virarem motoristas e motoristas a virarem fiscais. Também estamos organizando seminários sobre a importância de cuidar da saúde e fazendo cartilhas para orientar sobre os direitos das mulheres na sociedade.

Análise

Claudia Souza, assistente social

‘Sensível com os passageiros’

A mulher motorista é mais cuidadosa com o instrumento de trabalho. Ela zela melhor pelo veículo e é mais sensível com os passageiros. Não é uma disputa entre o homem e a mulher, cada um tem qualidades importantes. A mulher está buscando o seu espaço. Outro diferencial do público feminino é que ele não tem uma ficha de conduta inadequada. Elas faltam pouco, não recebem queixas de clientes e o número de acidentes é zero. Optamos por contratar duas instrutoras do gênero feminino porque temos muitas motoristas e cobradoras mulheres na empresa. É mais fácil uma mulher ser treinada por outra. Elas têm facilidade de comunicação.

DELICADEZA AO VOLANTE

Está agradando
Há cinco anos como motorista de ônibus, Gislene garante que, apesar de sofrer resistência de alguns passageiros, em geral homens com mais idade, os passageiros são só elogios para a única condutora mulher da linha Terminal Sapopemba – Terminal Correio. Gislene não se vê fazendo outra coisa

Mais mulher
A professora Lucia Moretti nunca tinha pego ônibus com Gislene, mas, mesmo sem conhecer o trabalho da moça, disse estar feliz ao ver uma mulher ocupando um cargo antes restrito ao público masculino. Ela é otimista e espera embarcar com mais frequência em ônibus dirigido por mulheres

Ficou surpreso
Anailton Gomes sempre se deu bem com todos os motoristas que trabalhou durante os 20 anos de profissão, mas confessou que ficou preocupado em trabalhar pela primeira vez com uma mulher. Ele foi surpreendido com a competência de Gislene atrás do volante do ônibus

‘É você!’
Logo que entrou no ônibus com destino ao Terminal Correio, a aposentada Maria Valeria dos Santos soltou a exclamação: “É você!”, afirmou, ao ver que Gislene era a motorista. Questionada, Maria disse gostar de mulher motorista, mas se surpreende porque não é todo dia que encontra uma na cidade

Fonte: Diário de SP / Foto: Sindmotoristas (Eva e Edna)