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5 de junho de 2018

Greve dos bancos deixa aposentados na mão

Greve dos bancos deixa aposentados na mão

 

Chegando ao seu 22 dia nesta terça-feira (27) e ainda sem previsão para ter fim, a greve dos bancários vem prejudicando algumas operações e forçando a mudança de hábitos para parcela da população que precisa fazer saques, depósitos ou pagamentos de alta quantia nas agências. Mesmo com os bancos oferecendo atendimento eletrônico para quase todas as transações, algumas pessoas, principalmente os idosos, sofrem por não ter intimidade com a tecnologia. 

Foi o caso de Gelson Moura, de 75 anos, que foi até o Centro da cidade, ontem, para tentar sacar sua aposentadoria no primeiro dia de pagamento de benefícios do mês. “Dei com o nariz na porta”, lamentou.

Sem saber lidar com o caixa eletrônico, ele não encontrou funcionários na agência do Bradesco e ficou sem o dinheiro. “Achei que (a greve) já tinha terminado, mas agora vou ter de esperar até acabar. Vai saber quando isso será. Nesse tempo, sem o dinheiro, vou comer, beber e dormir na casa dos meus filhos”, brincou.

O dilema de Gelson é  o mesmo de milhares de aposentados durante essa semana, já que o pagamento para quem recebe até um salário-mínimo se estende até o dia 7 de outubro, e a greve, por enquanto, não tem previsão de fim (leia mais na pág 3).

Aos 86 anos, Alvaro Pinheiro percorreu três agências do banco Santander na região central, ontem. “Eu não mexo com caixa eletrônico, não sei fazer isso. Fui em duas agências e não tinha ninguém para me orientar. Só na terceira havia uma funcionária que me ajudou”, contou o aposentado que também sacava  o seu benefício. “Quem vê pensa que é uma fortuna. Todo mundo sabe o que é um salário-mínimo, e está bem longe da fortuna que os bancos têm”, ironizou.

Inconformada, a aposentada Maria de Lourdes, de 64 anos, reclamou da falta de preocupação com o público idoso. “A tecnologia existe, tudo bem, mas as pessoas precisam entender que o pessoal de 60 ou 70 anos teve outra formação. Não é de uma hora para outra que aprende mexer com um monte de máquinas”, contou, enquanto aguardava para entrar numa fila de lotérica. 

“Eu tiro meu salário no banco e já pago minhas contas para não sair com muito dinheiro. Agora, a gente tem de pedir para um filho ou neto ir tirar no caixa eletrônico. Ainda por cima, levo bronca por andar com dinheiro”, revelou.

Goela abaixo

Cansado de ficar com o bolso vazio em períodos de paralisação dos bancários, Antonio Carlos Franze, de 83 anos, se viu obrigado a lidar com as máquinas de autoatendimento. “Sofri e ainda sofro. Fui obrigado a aprender a mexer nisso. Não é fácil, ainda mais quando tem greve que você não vê funcionários para auxiliar. Pedir ajuda para estranho é que não dá.”

Feliz por ter conseguido sacar sozinho o benefício em um terminal do Itaú, Antonio olhava para os lados com medo. “Sou do tempo de levar dinheiro na mão, mas, hoje, além do risco de assalto, ainda tem a história das greves. Você nunca sabe se vão  deixar na mão de novo.”

A mudança também foi forçada para Mariley Félix, de 69 anos. “Eu até aprendi, mas ainda tenho medo de não saber usar as máquinas, medo do cartão ser clonado, medo de me roubarem o cartão e acabarem com o pouco dinheiro. A gente trabalha muito, ganha pouco e vive com medo”, lamentou.

Paralisação já é a segunda maior da história do setor

Com 22 dias completos hoje, a paralisação dos bancários, que teve início em 5 de setembro, já é a segunda mais duradoura da história do país, uma vez que as negociações são coletivas e feitas em âmbito nacional. O movimento deste ano ultrapassou o registro de 2015, quando foi preciso 21 dias para que a os empregados voltassem ao trabalho. Fica atrás apenas da greve de 2004, quando os bancários cruzaram os braços por 30 dias.

 

Naquele ano, a paralisação teve início em 15 de setembro e só terminou em 14 de outubro e envolveu mais de 200 mil funcionários de bancos públicos e privados do país. Segundo estimativa da Fenaban, cerca de 1,4 mil pontos de atendimento dos bancos privados foram afetados pela greve de 12 anos atrás.

 

(Fonte: Diário de SP)