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5 de junho de 2018

Doria extinguirá programa, mas manterá ações anticrack de Haddad

A administração do prefeito eleito João Doria (PSDB) vai acabar com o programa Braços Abertos, marca da gestão Fernando Haddad (PT), na cracolândia. Manterá, porém, parte de suas ações, incorporadas e condicionadas ao Recomeço, da gestão estadual de Geraldo Alckmin (PSDB). Essências do programa de Haddad, a hospedagem e a remuneração por trabalhos específicos (como varrição) serão preservadas, mas sob uma condição: que os dependentes se comprometam a fazer tratamentos e desintoxicação ligados ao Recomeço, segundo o secretário de Desenvolvimento Social do Estado, o tucano Floriano Pesaro.

O certo é que a bandeira anticrack da gestão petista perderá o nome, como Doria já havia prometido. “Tudo será Recomeço”, diz o secretário do governo Geraldo Alckmin. Os programas da prefeitura da cidade e do Estado de SP para dependentes de crack têm princípios opostos. O Recomeço, criado em 2013 pela gestão Alckmin, propõe tratamentos por internação, às vezes involuntárias, e passagens por comunidades terapêuticas. Já o de Haddad, do início de 2014, preconiza a redução de danos: o dependente deve diminuir o consumo das drogas enquanto aumenta sua autonomia, sem internação, por meio da oferta de emprego e moradia. Beneficiários vivem em hotéis e trabalham em serviços como varrição e reciclagem.

Com avanços lentos e pontuais, essas ações são alvo de críticas, especialmente pelo cenário desolador que pouco muda na cracolândia, com usuários perambulando pelo centro da cidade e o tráfico de drogas sempre presente. TRANSIÇÃO Com a eleição de Doria, beneficiários do Braços Abertos temem ser despachados. Mas, segundo o secretário de Alckmin, o que acontecerá a partir de janeiro é a “integração” entre os programas. “É óbvio que ninguém vai ficar sem moradia, ninguém vai ser posto para fora [dos hotéis].” Quem mora nos hotéis do programa ficará ali “o período necessário para fazer sua reinserção social”. E o trabalho será mantido, desde que se comprove que “o sujeito esteja disposto a largar a droga”.

Pesaro diz que Doria “está de acordo” com as propostas. “Está sendo combinado com ele. Isso já foi amplamente discutido na formulação de seu programa de governo.” Professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, Jair Mari diz que “tem pacientes que vão se dar bem com um programa e outros com outro”. “Por que não combinar os dois programas?” Já para o psiquiatra Dartiu Xavier, também professor da Unifesp e exintegrante do Braços Abertos, “esse híbrido pode se tornar um ‘Frankenstein’, e a maioria não vai querer passar obrigatoriamente por tratamento para ter moradia e trabalho.

“O caminho é melhorar a vida antes de tirar a droga, e não o contrário.”

 Hoje, os usuários usam a estrutura de ambos. Sob o ardente sol de quarta (19), eles consumiam crack no meio da rua; outros esperavam para tomar banho no prédio do Recomeço, um dos serviços que elogiam. Em frente, na tenda do Braços Abertos, com violão e pandeiro, um grupo participava de uma sessão musical com técnicos da ação. A taxa de sucesso dos projetos é aferida de forma diferente: no caso do Recomeço, o governo diz que o índice de recuperação é de 70%, sem mostrar dados que comprovem a estatística. Segundo a gestão, das 2.817 pessoas que passaram em comunidades terapêuticas em 2015, 1.809 continuaram referenciadas nos serviços de saúde e 862 nos serviços de assistência social –mas não há detalhes de que forma e com que frequência.