Valdevan Noventa - Um líder não nasce por acaso!

5 de junho de 2018

Viaduto da Nove de Julho: para beneficiar menos de 83 mil motoristas, Doria deve impactar vida de 322 mil passageiros

Viaduto da Nove de Julho: para beneficiar menos de 83 mil motoristas, Doria deve impactar vida de 322 mil passageiros

Na última segunda-feira, em evento na Fecomércio, associação que reúne os comerciantes da cidade de São Paulo, o prefeito eleito João Doria afirmou o que vai reabrir o viaduto Doutor Plínio de Queiroz sobre a Praça 14 Bis, o viaduto da Nove de Julho, para automóveis, logo no dia 02 de janeiro.

Em novembro, a administração Haddad restringiu a via para o transporte coletivo.

“No dia 2 de janeiro, esse viaduto vai ser aberto para o automóvel. Vai acabar com essa história de passar um ônibus a cada meia hora”, disse. “Isso é uma obviedade. É só ficar aqui e ver, não precisa nem ser técnico de engenharia de tráfego para ver uma obviedade dessas”, afirmou o prefeito eleito, que recebeu aplausos da plateia. “As coisas óbvias a gente vai fazer imediatamente. Tem de fazer, executar”, concluiu, de acordo com o Estado de São Paulo.

Esse discurso de que passa um ônibus a cada meia hora no local (o que não é verdade) pode se esperar num boteco, e ainda no final do domingão (quando as pessoas já estão ‘bem altas’). Agora, de alguém que se pinta como um gestor?

Doria e sua equipe não se atentaram que o que deve ser contada não é quantidade de veículos e sim de pessoas? Um carro transporta em média 1,75 pessoa na cidade de São Paulo, segundo a própria CET. Um ônibus básico passa com uma média de 38 pessoas. (Estamos falando de média do carro X média do ônibus. Se for lotação X lotação dará: 5 pessoas no carro, 40 pessoas no micro-ônibus, 55 pessoas no micrão, 75 pessoas no ônibus básico, 88 pessoas no ônibus Padron, 140 pessoas no ônibus articulado, 210 pessoas no ônibus superarticulado e 250 pessoas no biarticulado – isso se contar o excesso de lotação e alterações na configuração interna dos veículos).

É de admirar que um empresário seja bem sucedido como Doria sem saber fazer conta.

VELOCIDADES E PESSOAS BENEFICIADAS

De acordo com a CET, após a medida a velocidade média dos ônibus no local subiu de 15,6 km/h para 20 km/h, acima da média dos corredores que é de 19,3 km/h.

No entanto, em relação aos carros, não houve prejuízo da velocidade média.

O trecho das avenidas Europa e Nove de Julho ficou praticamente sem alteração: 21 km /h nos horários de pico da manhã e 13,8 km/h no pico da tarde.

Mesmo assim, Doria pretende beneficiar o carro nessas áreas.

De acordo com medições oficiais da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego, pela faixa do Corredor da Avenida Nove de Julho trafegam 26 linhas de ônibus municipais, com uma média no horário de pico de 425 ônibus comuns, articulados, superarticulados e biarticulados.

Em média, esses ônibus transportam 322 mil pessoas por dia nos dias úteis.

Já pelo mesmo trajeto passam em média 1922 automóveis por hora no horário de pico.

Levando em consideração que cada carro na cidade de São Paulo leva uma média de 1,75 pessoas, nos horários de pico, os carros transportam neste local 3.486 pessoas por hora.

Num cálculo muito otimista, se estes carros transportassem o dia todo por hora o mesmo que transportam em horários de pico, o que não ocorre, seriam beneficiados pela medida de Doria, 83.664 donos de carros.

Mas o número na realidade é bem menor, já que os horários de pico não configuram a demanda de carros e pessoas durante a extensão do dia. Mesmo assim, se caso esse número fosse alcançado, menos pessoas ainda seriam beneficiadas do que em relação aos ônibus continuarem com exclusividade.

Se o ônibus diminui em 2 km/h sua média de velocidade, a viagem pode ser a partir de cinco minutos mais demorada, dependendo, claro do local e das condições de operação. Mas vale para se ter uma ideia.

São cinco minutos a mais para as pessoas que, por opção ou única alternativa, poluem menos a cidade, não congestionam as vias e ocupam melhor o espaço urbano.

Se este for o Padrão Doria Gestor, em vez de política de mobilidade, teremos ainda a política da “carrobilidade”

Fonte – Diário dos Transportes