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5 de junho de 2018

SP tem o menor número de viagens de ônibus em 10 anos; uso do bilhete mensal cai pela metade

SP tem o menor número de viagens de ônibus em 10 anos; uso do bilhete mensal cai pela metade

Os moradores de São Paulo estão usando menos ônibus para se locomover. No ano passado, foram feitas 2,862 bilhões de viagens no sistema, o que significou 50 milhões de viagens a menos em relação a 2016. O número é o menor patamar dos últimos 10 anos. O que aconteceu com o passageiro?

 

Levantamento feito pelo UOL, mês a mês, com base nos dados disponíveis no site da SPTrans mostra uma tendência de queda em todas as modalidades de pagamento de passagem nos últimos quatro anos.

 

No caso dos bilhetes temporais mensais — aqueles em que o usuário paga um valor fixo mensal e faz quantas viagens quiser –, a queda no uso acontece a partir de abril de 2017, após mudanças na política tarifária da cidade. A queda, em 8 meses, foi de 50% na adesão à modalidade.

 

A Prefeitura de São Paulo argumenta que a redução é reflexo do calendário de feriados. Já especialistas elencam uma série de fatores que podem explicar a redução:

 

    A crise econômica e aumento do desemprego fazem com que as pessoas passem a circular menos pela cidade.

 

“O aumento da tarifa desestimula o usuário a usar, mas o aumento do desemprego na cidade e a crise econômica também afetam a quantidade de viagens feitas. As pessoas têm menos renda para circular na cidade”, explica Marcos Campos, pesquisador do CEM (Centro de Estudos da Metrópole).

 

Alterações na política tarifária colocadas em marcha pela prefeitura a partir de abril de 2017 que aumentaram a tarifa básica da integração, que passou de R$ 5,92 para R$ 6,80 em 2017 (hoje é de R$ 6,96), reajustaram em até 50% no valor dos bilhetes temporais, excluíram todas as modalidades de semanais e os temporais voltados para estudantes e trabalhadores.

 

Morador de Itaquera, na zona leste da capital, o mecânico de refrigeração José Carlos Nunes, 51, disse ter passado a usar menos o transporte público para ir ao trabalho no Limão, na zona norte. “Agora, tenho ido mais vezes de carro, porque acho que não compensa tanto, mesmo com a gasolina não ajudando muito. Pelo menos, chego mais rápido.”

 

O artesão Adriano Wallace de Oliveira, 36, também. “Estou andando mais a pé. Por exemplo, outro dia precisava ir da zona oeste para Santana [zona norte]. Fui andando, duas horas, só para não pagar a tarifa (de integração)”, conta.

 

Para Raquel Rolnik, arquiteta e urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), as mudanças tarifárias “confinaram” quem vive nas regiões mais afastadas da cidade. “É o confinamento, principalmente das periferias, que [atinge] quem mais precisa do transporte público”, acrescentou.

 

Para os especialistas, o reajuste que entrou em vigor em janeiro deste ano, de R$ 3,80 para R$ 4, tende a reduzir ainda mais o uso de ônibus.

 

A administração municipal diz que “estimula a integração” entre os diferentes modais de transporte e diz discordar que as mudanças na política tarifária sejam a causa da queda no número de viagens, afirmando que a principal explicação está na quantidade de feriados em dias úteis em 2017. Foram 18 feriados e “feriadões” em dias úteis em 2017.